22 janeiro, 2009
Pessoas
Ilustração de Roderick Mils
Pessoas. Vivem connosco, à nossa volta. Conhecemos muitas mas mantemos uma relação, mais e menos próxima, com poucas. A partir de certa idade somos mais selectivos. Novos contactos raramente têm continuidade a não ser que sejamos obrigados a uma vivência quotidiana, como no local de trabalho. Mas, porque sentimos que a selectividade nos torna curtos socialmente, por vezes tentamos conhecer alguém. A partir do zero. Iniciar uma relação exige um esforço de reconhecimento de pontos (pontes) comuns, de afinidades que prometam prolongamento. Não é fácil, exige cautela. Jogamos à defesa porque a memória não é curta. Então, quando a coisa começa a resultar, deitamos fora as máscaras iniciais. É preciso tempo. Sentimo-nos bem por já não precisarmos delas. Expomo-nos com sinceridade. Sinceridade. Mas a sinceridade obriga-nos a abrir a defesa. Torna-nos frágeis porque ficamos dependentes das nossas palavras e dos actos que utilizamos para nos mostrarmos. Sem rede. E às vezes caímos. As pessoas que conhecemos acabam, umas, por nos deslumbrar, outras por nos decepcionar ou, poucas felizmente, por se aproveitarem. Utilizam-nos para ultrapassar etapas secretas e problemas mal resolvidos As pessoas que conhecemos, no meio da vida, podem começar por ser indiferentes e tornarem-se num melhor amigo (aconteceu comigo). Ou podem prometer muito e cortarem-nos as pernas. As pessoas que conheço verdadeiramente interessantes são aquelas que mais depressa se deixaram das tangas iniciais e abriram o jogo. Seguras, porque sabem que a regra é esta: ser sincero. Mas não vale sair fora a meio do jogo. Exigir sinceridade não pode ser depois arma de arremesso nem desculpa para a nossa imaturidade. Portanto, meus amigos, cuidado com a navegação. Nem tudo o que luz...
E perdoem-me. Amanhã já passou.
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15 comentários:
Metafóricamente, somos como galáxias em rota de colisão. Existem estrelas que se harmonizam entre si no momento do embate, outras que entram em colapso total por não encontrarem um ponto de equilíbrio orbital, acabando por se destruirem mutuamente. A sinceridade é, nesta metáfora, o ponto de equilíbrio dinâmico desejado. Um estado em que duas galáxias / pessoas se fundem, se harmonizam, e dançam uma valsa cósmica, sem no entanto perderem a identidade que as define.
Sem a sinceridade, não existe uma verdeira e honesta interacção... tornamo-nos rochas mortas e solitárias a vaguear no vazio universal.
Por Paulo Galindro
Da sinceridade... um abraço.
É bom desabafar, Zé. Com amigos ou com desconhecidos.
A amizade passa por muito mais do que a sinceridade. A amizade é uma espécie de amor. Temos ciúmes. Somos traídos ou correspondidos. Amuamos e fazemos as pazes... Um amor sem penetração!
Experiências...a vida é bela.
Texto lindo e verdadeiro.
...podia ter sido escrito por mim (ou seja: Subscrevo inteiramente!) pois é igualzinho ao que me acontece e penso acerca das pessoas.
Gostei muito de ler :-)
Belo texto, José. Surpreendente. Como surpreendentes são as relações. Surpreendentes e difíceis. E mesmo se amanhã não tiver passado há que aceitar.
Há sobretudo que valorizar a coragem com que aqui colocaste muito do que todos pensamos e sentimos. Coragem e delicadeza. Obrigada por as duas.
Um beijo.
Li e reli, José, e gostei. Somos imperfeitos.Lidar com a realidade tal como ela é, sem controlar ninguém e sem se iludir, nem se deixar controlar, é tentar nadar contra a corrente; mas é a única forma que encontrei de ter serenidade e ser feliz, sem medo de errar (meia vez por outra), sem expectativas, com alegria e coragem, um dia de cada vez!
Um abraço, companheiro!
Para o bem e para o mal, ser verdadeiro connosco e com os outros é sempre a melhor opção. Quem gosta gosta, quem não gosta foge ou ajuda-nos a sermos melhores pessoas.
O melhor método de seleccionarmos os outros é sermos apenas nós próprios!
Lindo texto, sofrido. Se sofremos é porque somos boas pessoas, porque acreditamos. E estamos sempre dispostos a perdoar. E cometemos mais outro erro, porque queremos acreditar que não vai haver mais erros que agora se calhar é que é...olha Zé, não te conheço, mas se conhecesse hoje era um dia bom para nos embebedarmos e chorar no ombro um do outro. Também tou na merda e não é do tempo.
Caro José,quem não sofre não é filho de boa gente,diz o povo.Estavas á espera de quê???Não se pode ser amigo de alguém que se esconde atrás de um computador e não mostra verdadeiramente o seu "eu".O dom e a beleza da escrita é que podemos escamotear a realidade e escondermo-nos pode trás.Quem está do lado de cá tem que dar o desconto.Tem que saber!!!A amizade nasce do convivio de sentimentos e vivencias.Como consegues conhecer,gostar e amar alguém que não olhas nos olhos e não conheces.
Lamento por ti.
Muitos beijinhos
Violeta
...
do nós e dos outros,
do que os outros fazem de nós
e
do risco...
Li-te com imensa atenção
Um abraço
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