27 março, 2007

Portáteis











Aproveitando a boleia do colega aqui do lado, resolvi desenhar os colegas de (e no) trabalho com os seus portáteis. É de facto uma verdadeira febre.
Normalmente não desenho com grafite nos cadernos simplesmente porque borra. No entanto experimentei passar um pincel só com água por cima do traço para fixar. Resultou.
A questão dos materiais que normalmente são utilizados nos cadernos de viagem ou nos diários gráficos é curiosa: parece que a tinta é preferida em detrimento da grafite assim como a aguarela é normalmente utilizada para a cor. Isto deve-se principalmente a razões práticas, mas também podemos buscar as causas destas preferências indo à origem da questão. O aparecimento deste tipo de exercício gráfico deve-se em grande parte à expansão do papel em meados do sec. XV na Europa. Sendo um material mais barato que o pergaminho naturalmente permitiu (encorajou até), através de formatos mais portáteis, a saída dos desenhadores para a observação da realidade exterior. No entanto esta evolução do suporte não foi imediatamente acompanhada pelos materiais e instrumentos gráficos. Apesar da existência de pedras naturais (como a sanguínea e o carvão que precederam a grafite) no desenho, estas eram normalmente destinadas ao desenho de parede (as sinopies) ou nos cartões, permitindo a sua correcção antes de serem coloridos. Assim, e enquanto não surgiram os fixadores, os artistas continuaram a utilizar nos seus cadernos os materiais próprios do pergaminho: as tinta e os aparos.
Até que ponto a tradição continua a influenciar a nossa prática dos diários gráficos é uma questão que deixo em aberto.

Até amanhã.

Grafite sobre bloco A6

3 comentários:

Cin disse...

oh how I love peeking in sketchbooks, so many wonderful pages here, plus a wonderful quality to your pencil line!

thanks too for your comment :)

miguel taborda disse...

boa aula!!

Eduardo Salavisa disse...

Este tipo de reflexões interessam-me. Parece que foi no tempo de Napoleão que este encomendou o estudo, a um tal Conté, dum instrumento mais prático de usar e com menos grafite, devido à falta dela. O que deu origem ao lápis. E que deu muito jeito na desastrosa (militarmente) campanha do Egipto.