13 julho, 2009

Eu, bloguer.



«Este é o tempo do conhecimento» disse-me o meu colega agarrado ao computador.

Penso. A abolição de fronteiras que a electrónica trouxe levou a uma ampliação do espaço e a uma aceleração do tempo. A quantidade de informação de que dispomos à distância de um clique poucas vezes se torna operante na vida real. Cria mais ruído do que sossego. Acumulamos informação que não serve para nada. Como um «Borda d’Água» gigantesco. O tempo de reflexão critica que dantes tomávamos como necessário tornou-se apêndice nas nossas vidas. Dantes pensávamos, agora agimos. Buscamos sempre mais ocupações para os tempos livres, que deixaram de ser livres. A ideia de estar sem fazer nada assusta-nos. E os nossos filhos vão pelo mesmo caminho. O computador transformou-se num brinquedo de auto promoção. Os blogues tornaram-se prisões. Aos dispensarem intermediários estas ferramentas, tão intuitivas que parecem brincadeira de crianças, levam-nos a pensar que temos realmente alguma coisa de interessante para mostrar. Como fazem as crianças quando nos mostram um desenho como se fosse único. Pensamos que quanto mais fizermos, e mostrarmos, mais sustentável se torna a nossa existência. Nem sequer nos preocupamos com a presença de retorno. E muito menos com a sua qualidade. Transportamos esta voragem mediática para as nossas relações. Temos amigos temáticos: os do desenho, os do ginásio, os do trabalho. Tudo numa boa. Sem complicar, porque a complicação implica tempo. Isto já para não falar das relações sentimentais – ainda existe este termo? Os modelos tradicionais de partilha de sensações afectivas, que necessitavam de tempo, estão a ser substituídos por SMS. «Amo-te» escrito no ecrã é igual mas mais rápido do que ao vivo. Mas bom, argumentam os poucos que me leram até agora, de que te queixas afinal? Tu que tens um blogue. De tudo? Ou de nada? E quanto tempo, precioso, levaste para escrever isto? Vai mas é desenhar...
Pois, e amanhã provavelmente sai novo post.

11 comentários:

Filipe LF disse...

Excelente reflexão caro amigo.
E dá pano para mangas...
Como os desenhos.
Abraço

JASG disse...

Sábias palavras!

Conhecimento não é o mesmo que sabedoria.

Excelente desenho. Gosto especialmente deste registo.

Aqui há retorno (fiéis), porque também há muita qualidade.

Abr.

hfm disse...

E ainda bem, meu amigo, que amanhã há novo desenho. Quanto ao resto poderíamos falar um dia destes olhando o rio e desenhando. Infelizmente estou fora e não foi possível ir mas não desisti.

Anónimo disse...

Muito bem, concordo na generalidade. Talvez por isso leio mais contos, quando dantes lia mais romances... o computador cria preguiça?
Abraço
Gonçalo

conduarte disse...

Novos tempos, o importante é exercitar de alguma forma nossos sentimentos, escritas, e leitura... Mas acredito que o papel sempre tem um valor diferente.

Um beijo, CON

Eduardo Salavisa disse...

Um objecto para ser arte precisa de ser reconhecido pelo outro. Como dizia o Duchamp e outros. Felizmente os nossos desenhos, rápidos e em cadernos, não são arte. Zé: fecha o blog e redescobre o prazer do desenho.

PeF disse...

Gostei de ler. Blogo, logo existo, parece ser a permissa dos dias que correm. Quanto a SMSs, blogs e outros que tais, são só roupagens novas para velhas questões. Mas entendo o desabafo.

Do saber ou não se tem interesse para ser mostrado, com certeza que tem! É uma visão ou expressão pessoal e única. Leia e veja quem quer e quem se identifique com ela, mesmo que por pouco tempo. Mas interesse, claro que tem!

Abraço!

peri s.c. disse...

Você acaba de provar que há vida inteligente nessas novas midias pessoais. E que enfim, sabendo onde aplicar, o tempo nem sempre é perdido.
abraço.

Mais um Lugar de Mim disse...

Ena, ena! Agora além de artista também é escritor! Muito bem! (deixa lá isso, há tempo para tudo, blogs incluidos!)

Ad astra disse...

E pensas tão bem como desenhas.
Gostei dessa reflexão profunda

abraço

Anónimo disse...

Interessantes e verdadeiros questionamentos. Verdades tão límpidas quanto nossas palavras "escuras" ou, no seu caso, quanto seus desenhos "escuros".
Do lado de lá da cor, da palavra, da linha ou do traço, moram algumas verdades ocultadas pelo nosso "ofício de viver".
Me inspirei, olha que coisa? E dessa vez nem foram pelos desenhos, mas sim, pela exata reflexão.
Bjs