25 novembro, 2013
Plágio, disse ela.
Cena 1
Cenário: casa do artista, grupo teatro TIL. Peça D. Quixote.
Luzes apagadas. Na plateia centenas de jovens, alguns professores, um vulto rabiscando umas coisas num pequeno caderno.
Cena 2
Cenário: o mesmo.
Holofotes projectam luzes de várias cores. A peça a decorrer. Uma vigilante do teatro olha várias vezes para o vulto que rabisca sem olhar para o que rabisca.
Cena 3
Cenário: o mesmo.
A vigilante aproxima-se. O vulto pelo canto do olho teme o pior. Ou o melhor... A vigilante pára por cima do ombro do vulto suspeito.
- Está a desenhar os cenários?
- Sim, e não só. Na verdade nem estou a ver o que estou a desenhar.
- Não pode!
- Como?
- Não pode desenhar. Isso é plágio!
- Mas eu nem sei o que estou a desenhar...
- Não pode!
- Mas eu não sou cenógrafo. Eu não vou copiar nada, quem me dera ter essa habilidade...!
- Não pode! Fotografar, filmar e desenhar. Avisaram no início.
- Só percebi as duas primeiras.
- É preciso dizer tudo?
Alguns espectadores começam a olhar. Uma boa discussão é bem mais apelativo que a peça. O vulto guarda o caderno.
Cena 4
Cenário: exterior do teatro. Luz do dia.
Aluno aproxima-se do vulto, agora já identificado como um professor. Este mostra-lhe os desenhos.
- Ó professor, devia ter mostrado os desenhos à senhora. Ela assim não podia ter dito nada...
- Que queres dizer?
- Ó professor, os seus desenhos nem se percebem...
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9 comentários:
Óptima narrativa e super desenhos.
Somos uns desenhadores incompreendidos...Mas com uma grande qualidade.
Muito bom: a narrativa e os desenhos :) Já sabemos que isto não é para todos :)
Que imbecilidade não perceber que por pouca gente que veja estes magníficos desenhos já há mais pessoas a ir ao teatro...
Eu cá desenho sempre que lá vou e nunca me disseram nada.
Abraço
Que tristeza, Zé. Valeu a história, pena que real e os desenhos.
Já devia saber:
Não pode Fotografar, filmar, desenhar ou memorizar...
E a memória? Pendura-se cá fora no bengaleiro?
Brilhante, mestre!
Os desenhos e o texto.
Grandes desenhos e grande história. Fica-me apetecendo ir lá plagiar.
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